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E se... (por uma cidade acessível a todos)

Prezado leitor,

Preâmbulo:

Imagine que habita numa cidade confusa, um lugar onde o espaço público em geral e os passeios em particular são desprezados, negligenciados, maltratados. Imagine uma cidade em que a vivência dos espaços públicos tende a subalternizar-se à utilização dos espaços públicos como o locus depositário do que não cabe noutros sítios - seja um painel publicitário ou político, automóveis ou pilaretes, sinalização vertical, caixas de electricidade, iluminação pública, paragens de autocarros, etc. Este é um problema de muitas cidades, talvez todas em Portugal, talvez...

Imagine esta cidade onde os espaços públicos, no lugar de se assumirem como espaços privilegiados para as pessoas, definem-se como espaços para as coisas das pessoas. E lá vêm os elementos estranhos mais toda a panóplia de mobiliário urbano desarrumado que enche o espaço público e o torna inóspito e agreste, tão difícil de viver, cruzar e desfrutar como os mais ventosos morros das terras altas.

De forma displicente, o espaço público nesta cidade mais não é que o espaço-público-das-coisas-das-pessoas.

Imagine agora uma cidade em que o espaço público em geral e os passeios em particular são lugares sacrossantos, invioláveis, protegidos, cuidados. Isto é, uma cidade pensada para as pessoas e não para os adereços das pessoas. Em que o espaço público é pensado como o espaço-público-das-pessoas, em detrimento do espaço-público-das-coisas-das-pessoas. Esta é uma cidade que militantemente protege as pessoas e a sua vivência dos espaços públicos.

Esta(s) cidade(s) podia(m) ser Lisboa. Este desafio, o de pensar que cidade se pretende para o futuro, foi lançado pela Câmara Municipal de Lisboa à sociedade civil. O Passeio Livre foi convidado a participar numa sessão de auscultação para o Plano de Acessibilidade Pedonal de Lisboa, que visa diagnosticar o actual estado da cidade no que respeita à acessibilidade pedonal, procurando lançar a discussão de que cidade se pretende para 2017, bem como a forma de lá chegar.

A marcha começou já portanto, do lugar-estranho da acessibilidade pedonal de Lisboa em 2009, para uma cidade acessível em 2017.

Um agradecimento à equipa do Núcleo de Acessibilidade do Departamento de Acção Social pela organização da sessão de auscultação, pelo convite endereçado ao Passeio Livre e pela oportunidade que nos foi dada de contribuir para tornar Lisboa mais acessível - obrigado Pedro Homem de Gouveia, Pedro Alves Nave, Jorge Falcato Simões e João Mendes Marques.


Breve resumo da sessão:


A sessão de auscultação para o Plano Municipal de Acessibilidade Pedonal de Lisboa teve lugar no dia 18 de Setembro. A elaboração deste plano foi decidida em Julho de 2009 e pretende, antes de mais, realizar um diagnóstico da situação de acessibilidade da cidade (assumido como extraordinariamente negativo). Pretende-se que nos próximos 12 anos se possa tornar Lisboa numa cidade o mais acessível possível.

A sessão contou com a participação de:
  • organizações da sociedade civil (directa ou indirectamente ligadas ao tema da acessibilidade, e.g., ACAPO - Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal, CNAD - Cooperativa Nacional de Apoio a Deficientes);
  • serviços da CML;
  • outras entidades e cidadãos (onde se encaixava o Passeio Livre).

Procurou-se:
  • identificar problemas e definir formas de os corrigir;
  • prevenir o aparecimento de novas barreiras;
  • tomar medidas para um envolvimento da comunidade na promoção e defesa da acessibilidade inclusiva;

Estes pontos foram discutidos relativamente à totalidade do espaço público, incluindo ruas, praças, jardins, passeios, etc., na perspectiva da circulação em condições de conforto, segurança e autonomia.

O relatório total da sessão pode ser consultado aqui.

O Passeio Livre foi verdadeiramente bem recebido. Não só houve curiosidade genuína sobre a iniciativa em geral como, mais ainda, sucederam-se os pedidos de autocolantes, quer por cidadãos individuais, quer por organizações.

londres - cidade sem automóveis

«Olá,
Segue abaixo o meu contributo para a nova rubrica. Trata-se de um artigo sobre um novo empreendimento proposto para o centro de Londres.
Nesta cidade, ao contrário do que cá se passa, existe um número MÁXIMO de lugares que pode ser proposto em cada projecto. Aliás, os projectos são benefíciados quando são propostos poucos lugares, de preferência, bem longe do máximo permitido, existindo projectos que apenas prevêm lugares para cargas e descargas, deficientes e eventualmente veículos de utilização partilhada (car sharing).
O objectivo é desincentivar que as pessoas tenham carro. E diga-se, numa cidade como Londres com excelentes trasportes público, a qualquer hora de qualquer dia da semana, ninguém precisa de carro! Experiência própria.
O projecto em questão, além de outras modernices como uma central de biomassa propõe, pasme-se, 25 lugares de estacionamento para automóveis, 22 para motociclos e 586 para bicletas. Tudo para servir 376 apartamentos e algum espaço comercial, numa torre de 149m.
Segue abaixo extracto do artigo, e link.
"Located on a brownfield site adjacent to the Vauxhall transport interchange, the proposed 149m tall building supports the planned regeneration of the Vauxhall, Battersea and surrounding areas and is within a zone allocated for a cluster of new tall buildings."
"In an area dominated by transport systems, the scheme includes a landcaping proposal to connect Bondway to Vauxhall Park and improve the pedestrian experience through an increase in public seating and vegetation.
Biomass boilers provide 25 per cent renewable energy consumption, sustainable urban drainage system protects the local infrastructure; 25 car parking spaces, 22 motor cycle spaces and 568 bicycle spaces will be provided."
http://www.architectsjournal.co.uk/first-look-the-octave-makes-149m-tower-for-vauxhall/5203521.article
O número de apartamentos é citado num outro artigo, abaixo.
http://www.bdonline.co.uk/story.asp?sectioncode=426&storycode=3142870 »
Contribuição de um leitor, 19Jun09

Alvalade, Lisboa


O número de pilaretes de uma cidade demonstra o conflito entre o automóvel e o peão. Além do dinheiro exigido ao erário público, cada pilarete colocado é a prova que a força pode mais que a educação. Estes nem bem colocados foram.