In JN (Via Cidadania Lx)
A Câmara Municipal de Lisboa está a alargar o tempo de atravessamento dos peões nos semáforos e passadeiras da Baixa.
E promete aumentar o combate ao estacionamento abusivo. Ontem, 200 pessoas reuniram-se em defesa dos direitos de quem circula a pé.
"É importante que o automóvel não seja rei e senhor da cidade em relação ao qual tudo se sacrifica desde o espaço público, aos passeios e passadeiras", disse, ao JN, Nunes da Silva, o vereador da Mobilidade da Câmara Municipal de Lisboa (CML).
As afirmações ganham especial relevância tendo também em conta que, segundo dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, o número de atropelamentos de peões no distrito aumentou no ano passado: 1703 atropelamentos que resultaram em 22 mortos contra 1587 atropelamentos e 15 mortos em 2008.
O autarca falava antes do arranque de uma sessão de consulta pública sobre acessibilidade nas ruas de Lisboa e que ontem à tarde juntou mais de 200 pessoas – a maioria idosas –no Mercado da Ribeira, ao Cais do Sodré. Na ocasião, o JN ouviu críticas de vários cidadãos e todas afinavam pelo mesmo discurso:
há demasiados carros mal estacionados e, entre outros protestos,
falta civismo aos automobilistas.
O vereador Nunes da Silva abordou a problemática questão do civismo (ou da sua falta) considerando que “
as pessoas tornaram-se extremamente egoístas” e destacou que “é curioso verificar que têm comportamentos completamente diferentes quando estão num automóvel e quando andam a pé”.
Desde sábado que a CML começou a modificar o funcionamento dos semáforos na Baixa pombalina. “Damos agora mais tempo de atravessamento aos peões”, disse Nunes da Silva, avançando que tenciona testar a viabilidade de uma fase nos semáforos reservada só a peões mesmo em cruzamentos, de maneira a que “todas as passadeiras fechem para os automóveis ao mesmo tempo e o peão possa atravessar em diagonal”. A autarquia está, também, a procurar “melhorar as condições de fluidez de tráfego com velocidades constantes relativamente baixas”.
Maria de Jesus Monteiro, moradora do Campo Grande, foi
apenas uma das muitas a criticar a quantidade de carros estacionados em cima dos passeios e que perturbam ou impedem a circulação dos peões.
O vereador disse ter consciência de que “é preciso controlar o estacionamento e ser extremamente mais rigoroso e penalizador”. Contudo, afirmou ao JN que as intenções da CML são dificultadas pela escassez de meios. A real eficácia dessa prevenção só se conseguirá “quando a Divisão de Trânsito da PSP passar a estar integrada na Polícia Municipal”, uma vez que “não temos efectivos suficientes na Câmara para fazer essa actuação”. “A proporção é de um para três em relação à PSP”, lembrou, sublinhando que “tem que haver um corpo de policia especializado e não se justifica que seja dependente do ministro da Administração Interna”.
Presente na sessão esteve também um arquitecto da CML, Jorge Falcato Simões, que se movimenta em cadeira de rodas. Apesar de admitir que raramente circula nos passeios, disse ter noção de que “são uma realidade um bocado inóspita”. Como tal, urge “tornar a cidade acessível” até para evitar que as pessoas “sejam precocemente atiradas para lares de idosos”. “As pessoas envelhecem e a sua área de mobilidade vai diminuindo”, explicou, acrescentando que isso faz com que “a pessoa se culpabilize a si própria” quando, no fundo, “a pessoa não faz aquilo que fazia antigamente porque o ambiente é hostil”.