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Os meus caminhos estão cheios de montes Evereste

Uma jornalista experimentou, durante um dia, manter a rotina diária mas de cadeira de rodas:

Durante um dia, pusemo-nos no lugar da pessoa com mobilidade reduzida. Foi um inferno.
Por Marisa Soares

"Sigo viagem até ao comboio, que apanho diariamente. Encontro um jipe
estacionado à saída da passadeira, em cima do passeio
(que até é
rebaixado, mas não tem pilaretes de ferro). Por isso, sou forçada a
seguir pela estrada, lado a lado com os carros, em contramão
.

Quando consigo voltar ao passeio, "tropeço" nas pedras soltas da
calçada, nas caixas cinzentas que abrigam os contadores da
electricidade e da água, e nas bocas-de-incêndio "plantadas" lá no
meio. Para além disso, são muitos os passeios que não têm 1,20 metros
de largura, como exigido por lei. É melhor regressar à estrada."

e

"Vou entregar a cadeira, de carro, e volto de metro. Já não reparo nas
pedras levantadas, nos passeios altos, nos degraus que, há horas, me
pareciam um monte Evereste. "Não podes construir um mundo ideal",
dizem-me os amigos. Será que um dia deixarão de ter razão?"

Opinião - quero ir às compras a pé posso?

Em relação à pedonalização das ruas cada vez que o assunto é abordado surgem na comunicação social opiniões contrárias ou fortemente reticentes de Associações Comerciais, do lobby dos automóveis, de Confedarações do Comércio , etc... (Comerciantes com queixas da pedonalização das cidades-PUBLICO-03.08.2009)

Ora o comércio consiste numa relação de troca de bens e serviços entre duas partes - o comprador e o vendedor. Ambas as partes são necessárias para que a relação comercial se processe.

O que temos assistido na comunicação social é a um "direito de antena" exclusivo aos comerciantes, ou seja à componente vendedora das transacções comerciais, que fala em nome da componente compradora - o consumidor, mostrando capacidade de adivinhar, sem bases científicas quaisquer, as preferências dos compradores apenas pelos números das vendas de alguns retalhistas.

Posto isto lanço a questão: as grandes superfícies não são elas próprias grandes zonas pedonais,livres de ruído, de ar poluído, de riscos de atropelamento ao atravessar as vias de uma loja para a outra? Porque é que não auscultamos mais as preferências dos consumidores, no que toca à actividade de fazer compras, para que possamos adaptar o comércio tradicional às suas preferências?



Talvez cheguemos à conclusão, como vemos no caso da Rua Augusta na baixa de Lisboa, que a pedonalização e requalificação das ruas dando prioridade aos peões é uma mais valia para o comércio tradicional, acautelando sempre a acessibilidade às zonas de comércio através das diversas formas de transporte, de uma forma integrada e coerente.


Mais direitos aos peões e mais zonas pedonais e de acalmia de tráfego, não implicam, como tem vindo a ser mencionado erradamente, uma quebra de competitividade do comércio tradicional, mas antes tornam as condições do comércio tradicional mais próximas das excelentes condições de circulação pedonal a que os compradores têm acesso nas grandes superfícies - é esta a experiência que tenho constatado nas cidades europeias com maiores indíces de qualidade de vida e satisfação do seu tecido social e comercial.

Deixo o desafio - que as entidades associativas que defendem o comércio tradicional se preocupem, com o mesmo determinado empenho que revelam em relação à questão dos automóveis, em modernizá-lo em termos de imagem, de qualidade dos bens e serviços oferecidos, de diversidade e preços competitivos.



Nuno Xavier