No Alto de São Popó, Lisboa

Avé Lisboa cheia de Graça
o Popó é convosco
Bendita sois Vós entre as cidades 
E bendito é o fruto do egoísmo, o carro
Santa Lisboa, mãe dos Lusos
rogai por nós infractores
agora e na hora da coima.
Amén

Estamos aqui hoje reunidos irmãos, neste sacro dia onde se aclama e sublima o nosso santo popó, para vos saudar e partilhar convosco as miraculosas e salvíficas images das ruas Sousa Viterbo e da paralela Rua Braancamp Freire no Alto de São João. Nestas ruas, o estacionamento é desde há muito autorizado em cima do passeio.

Escutai irmãos e atentai no espírito que uma das maiores virtudes cristãs é o respeito pelo próximo, o idoso, o vulnerável, a grávida, o deficiente motor, o invisual ou o amblíope. Devemos amá-los e respeitá-los antes mesmo de a nós próprios. Amar tal como Jesus amou.

Assim, em nome do Sumo Pontífice e de uma bula diretamente redigida pelo Espírito Santo, aqui se declara que todos aqueles que estacionaram os seus veículos no passeio são considerados hereges e não terão o lugar no reino dos céus. 

E de que vos vale o lugar no passeio, violando as redentoras premissas da Caridade, se o lugar nos céus vos fica vedado? A Verdade irmãos, é que estais longe de, à luz dos desígnios do Senhor, carregar a cruz de Cristo pois movei-vos apenas pelo Egoísmo e Preguiça, pecados capitais que São Tomás de Aquino tão sapientemente doutrinou nas actas da Salvação.

Rogo-vos irmãos, em nome da Cristandade que dizeis professar, respeitai o próximo e o vulnerável e jamais estacionai sobre o espaço pedonal.

Que o popó não esteja convosco. Vade retro!
"Ele está no meio de nós"

PEÕES: POR FAVOR TRANSITEM PELOS PASSEIOS!

Reparem no letreiro afixado na Rua Garret em 1953:
PEÕES: POR FAVOR TRANSITEM PELOS PASSEIOS!

E assim, a praga automóvel foi tomando, "passo-a-passo", conta da cidade!

Passando o espaço público a ser desagradável e inseguro, e considerando que as velocidades médias dos veículos subiam com o desenvolvimento da tecnologia, o número de atropelamentos de peões subia a cada ano exponencialmente. Surgem então os diversos código das estrada, com regras punitivas para os peões incumpridores por forma a salvaguardar a sua segurança. Peão era um termo militar, quase pejorativo, para o plebeu que andava na guerra a pé, em contraste com o nobre que andava a cavalo, o veículo de então, termo ainda hoje usado no xadrez. Por esta altura criam-se os parques infantis, depósito seguro para crianças irrequietas numa cidade periogosa. Com o aumento das velocidades dos veículos a motor, surge primeiro o polícia sinaleiro, e posteriormente a semaforização. Com a obesidade crescente, devido à falta de qualidade do espaço público para modos ativos, surgem abundantemente os ginásios, para resolver os problemas crescentes de saúde da população.

Por uma questão de boas acessibilidades

Já se percebeu o verdadeiro motivo para rebaixarem os passeios nos locais onde vão existir passadeiras: facilitar o acesso para estacionamento em cima dos passeios, tal como a foto da Rua Andrade Corvo demonstra.

Estacionamento junto à Praia da Torre em Oeiras

E assim se estaciona na Praia da Torre, em Oeiras! Já corre uma petição no município com milhares de assinaturas para a construção de um silo de estacionamento na praia junto ao mar. Quando questionado sobre se a obra não seria onerosa e teria impactos ambientais o autor da petição, que teve acolhimento positivo imediato junto da autarquia, referiu que "as pessoas precisam do carro para trabalhar".

Um tesourinho deprimente, de Santa Apolónia

Estes animais, com todo o devido respeito que os animais merecem, não deviam alguma vez ter-lhes sido dado o direito de pegar num carro, porque por muito respeito que tenhamos pelos animais, não lhes colocamos um carro nas mãos. Num passeio protegido por vários pilaretes, em Santa Apolónia, não só se estaciona, como se circular de automóvel e bicicleta a bel-prazer. Falamos de um passeio, para peões!

"E só não estaciono na areia junto ao mar, por causa da vedação"

Na Praia do Bom Sucesso


Bomba de incêndio enterrada

Recebido por mail:

Bom dia,

Segue em anexo a foto de uma bomba de incêndio semi-enterrada com a qual me deparei hoje na rua Dom Francisco Manuel de Melo, em Lisboa.

Cumprimentos,
********

Passeio Livre no jornal Público

Após a nossa publicação onde relatámos que o estacionamento selvagem na Av. Gago Coutinho em Lisboa teria sido legalizado, o Passeio Livre enviou uma carta pública ao presidente da Câmara de Lisboa, Dr. Fernando Medina, carta enviada com conhecimento das redações de alguns jornais diários.

O email foi o seguinte:

Ex.mo. Sr. Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Dr. Fernando Medina.

Queremos vivamente repudiar a aberrão jurídico-pedonal, que a autarquia elaborou para a Av. Gago Coutinho. Recordamos, que de acordo com o ponto 1.1 da Carta Municipal de Direitos dos Peões, aprovada pela autarquia, os peões têm "direito à livre circulação com passeios isentos de viaturas estacionadas ou outros objetos que pelas suas características ou dimensões dificultem ou impeçam a passagem de peões".

Converter um passeio em estacionamento, é por conseguinte, uma aberração jurídica e viola de forma gritante a referida carta aprovada pela edilidade, considerando que de facto e não de jure, a zona continua a ser um passeio. É também uma autêntica aberração no campo da mobilidade pedonal, pois muitos dos veículos automóveis não respeitam sequer um espaço mínimo entre as paredes dos edifícios, ficando impossível a passagem de cadeiras de rodas ou carrinhos de bebés, já para não mencionar o total desrespeito que esta solução preconiza para pessoas com mobilidade reduzida ou invisuais.

Logo rogamos, o mais cedo quanto possível, a simples remoção da referida sinalética. Se a autarquia não tem a coragem política necessária para erradicar o estacionamento selvático na referida avenida, preservai simplesmente V. Exa. o status quo da referida situação, arcando politicamente com a consequência jurídica que tal situação selvática acarreta, ou seja, uma ilegalidade gritante e generalizada, à luz da alínea f) do n.º 1 do art.º 49.º do Código da Estrada.

Ex.mo. Sr. Presidente,
os nossos melhores cumprimentos e
saudações pedonais, porque peões somo-los todos.

Passeio Livre

_______________________

O jornal Público elaborou um artigo com referência à dita carta enviada às redações.